Declaração de fé de Westminster

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Desde Julho de 1643 até Fevereiro de 1649, reuniu-se em uma das salas da Abadia de Westminster, na cidade de Londres, o Concílio conhecido na história pelo nome de Assembléia de Westminster. Este Concílio foi convocado pelo Parlamento Inglês, para preparar uma nova base de doutrina e forma de culto e governo eclesiástico que devia servir para a Igreja do Estado nos Três Reinos.

A Assembleia dos teólogos de Westminster foi convocada em 1643, após anos de tensão entre Charles I e seu crescente Parlamento puritano. Reunidos sob a presidência do erudito William Twisse contra os desejos expressos do rei, a visão original da Assembleia era criar uma maior uniformidade da fé e a prática em todo o reino de Charles I.

A tarefa original dos delegados era revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, mas após firmar a Liga e Pacto Solene, esta Assembleia avançou para mais específica e exata tarefa de delinear uma fórmula teológica e eclesiástica que conduzisse a Igreja da Inglaterra à conformidade com a doutrina e prática da Igreja Presbiteriana da Escócia. A Confissão de Fé de Westminster representa um momento de maturidade no desenvolvimento da teologia federal, e sua dinâmica interna gira em torno do conceito de “pacto”.

Dividida em trinta e três capítulos, abrange minuciosamente o alcance completo da doutrina cristã, começando com as Escrituras como a fonte do conhecimento das coisas divinas (da mesma maneira que na Primeira e Segunda Confissão Helvética, a Fórmula de Concórdia, e os Artigos Irlandeses). Continua com uma exposição de Deus e seus decretos, a criação, a providência, e a queda (II-IV) antes de explicar o pacto de graça, a obra de Cristo, e detidamente a aplicação da redenção (VII-XVIII). Em vários títulos dos capítulos, lhe dá uma cuidadosa atenção a perguntas sobre a lei e a liberdade, à doutrina da igreja e os sacramentos (XXV-XXIX), e às últimas coisas.

A Confissão de Westminster foi a última das confissões formuladas durante o período da Reforma. Até agora tem havido na história da Igreja somente dois períodos que se distinguiram pelo número de credos ou confissões que neles foram produzidos. O primeiro pertence aos séculos IV e V, que produziram os credos formulados pelos concílios ecumênicos de Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia; o segundo sincroniza com o período da Reforma. Os símbolos do primeiro período chamam-se "credos", os do segundo "confissões". Uma comparação entre o Credo dos Apóstolos, por exemplo, e a Confissão de Westminster mostrará a diferença. O Credo é a fórmula de uma fé pessoal e principia com a palavra "Creio". A Confissão de Fé de Westminster segue o plano adotado no tempo da Reforma, é mais elaborada e apresenta um pequeno sistema de teologia. Esse sistema é conhecido pelo nome de Calvinismo, por ser o que João Calvino ensinou, e foi aceito pelas Igrejas Reformadas, que diferiam das Luteranas.

A utilidade de uma Confissão de Fé evidenciou-se na história das Igrejas Reformadas ou Presbiterianas. Sendo a Confissão de Westminster a mais perfeita que elas têm podido formular, serve de laço de união e estreita as relações entre os presbiterianos de todo o mundo. Os Catecismos especialmente têm servido para doutrinar a mocidade nas puras verdades do Evangelho.

Segue abaixo a confissão em sua integralidade.

 

Confissão de Fé de Westminster

 

CAPÍTULO I

DA ESCRITURA SAGRADA

 

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

 

Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.

 

II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática:

 

O VELHO TESTAMENTO

 

Gênesis

Êxodo

Levítico

Números

Deuteronômio

Josué

Juízes

Rute

I Samuel

II Samuel

I Reis

II Reis

I Crônicas

II Crônicas

Esdras

Neemias

Ester

Salmos

Provérbios

Eclesiastes

Cântico dos Cânticos

Isaías

Jeremias

Lamentações de Jeremias

Ezequiel

Daniel

Oséias

Joel

Amós

Obadias

Jonas

Miquéias

Naum

Habacuque

Sofonias

Ageu

Zacarias

Malaquias

 

 

O NOVO TESTAMENTO

 

Mateus

Marcos

Lucas

João

Atos

Romanos

I Coríntios

II Coríntios

Gálatas

Efésios

Filipenses

Colossenses

I Tessalonicenses

II Tessalonicenses

I Timóteo

II Timóteo

Tito

Filemon

Hebreus

Tiago

I Pedro

II Pedro

I João

II João

III João

Judas

Apocalipse

 

 

Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.

 

III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

 

Luc. 24:27,44; Rom. 3:2; II Pedro 1:21.

 

IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

 

II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.

 

V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.

 

I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.

 

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.

 

II Tim. 3:15-17; Gal. 1:8; II Tess. 2:2; João 6:45; I Cor. 2:9, 10, l2; I Cor. 11:13-14.

 

VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

 

II Pedro 3:16; Sal. 119:105, 130; Atos 17:11.

 

VIII. O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.

 

Mat. 5:18; Isa. 8:20; II Tim. 3:14-15; I Cor. 14; 6, 9, 11, 12, 24, 27-28; Col. 3:16; Rom. 15:4.

 

IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.

 

At. 15: 15; João 5:46; II Ped. 1:20-21.

 

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

 

Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.

 

 

 

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